quarta-feira, 9 de julho de 2014

Das minhas lembranças favoritas, você é a mais

Eu poderia fazer isso de duas formas. Poderia começar com uma breve mensagem casual, falando do quanto que o tempo passou desde que nos falamos pela última vez. Poderia te dizer frases desconexas de quem nada mais quer do que uma conversa sem grandes pretensões e nós fingiríamos que meros acasos nos afastaram, mas que ainda somos capazes de rir um pouco um do outro. Eu torceria para que você entendesse o que, na verdade, estava nas minhas entrelinhas, esperaria angustiada pelo momento em que você, com o gancho dado, iria, também, atrás de mim. A cada segundo que se passasse todos os sentimentos pelos quais passei nos últimos anos iriam pulsar, cada um a seu tempo, dentro de mim. Primeiro, me arrependeria. Não éramos mais os mesmos, você não riria mais das minhas piadas, tampouco aceitaria mais quando eu fingisse que fazia pouco caso de você. Talvez seria a sensação de quando os anos passam e nós esperamos que algo dentro de nós continue da mesma forma, como um lugar comum em que nós podemos simplesmente nos refugiar. Como uma certeza em meio a todo o caos. Depois, tentaria de tudo para esquecer a breve conversa, e colocaria até um dia no calendário exigindo-me o tal feito. Mas, ao mesmo tempo do arrependimento e da vontade de esquecer, paradoxalmente, algo dentro de mim estaria torcendo para que você falasse. E assim os dias iriam passar, talvez semanas, como se se precisasse de muito e se esperasse muito de um velho conhecido.
Por outro lado, eu poderia te escrever isso. Eu poderia simplesmente realizar a mais difícil, creio eu, tarefa dos dias de hoje, sendo sincera. Poderia te deixar ir em todas as minhas entranhas, pensamentos, sonhos, sentimentos. Queria que você soubesse do quanto que eu gostei de você - e gosto - e de como você foi a pessoa com que eu fui mais verdadeira em toda a minha vida, como o fato de não precisar me preocupar se você vai acreditar na minha farsa de não estar nem aí para nada. Queria, também, poder te contar que muitos dos meus risos mais sinceros foram contigo, dos tantos momentos que eu deveria estar fazendo outra coisa, mas a minha única preocupação era se você iria falar comigo. Ou de como eu aprendia todos os dias com você, mesmo quando aparentemente discordava de tudo o que você falava. É engraçado, porque anos depois, eu me vejo cada vez mais parecida com você.
Sobre o que eu senti, nem eu entendo muito bem. Sabia e ainda sei o quanto não queria bagunçar a tua vida com a minha bagunça, e como mesmo assim sei que tirei muita coisa do lugar. Sabia o quanto você tinha vontade de me fazer bem e de me fazer feliz, de simplesmente fazer com que a gente olhasse na mesma direção. Também sabia que a minha vontade não era muito diferente da sua, e do quanto tentei e lutei contra mim mesma. Certamente não é nada fácil travar uma luta interna entre o que você sabe que é melhor para você e para outra pessoa e o que você sente. Entre o que você pensa e o que você consegue expressar, entre o que você quer gritar pros quatro ventos e o que as pessoas esperam de você. Não é fácil, também, ver o que você queria se perdendo entre os seus dedos e não poder fazer nada. Ou de saber o que tantas pessoas estavam achando de você, quando nenhuma se preocupou em saber o que de fato se passava.
Talvez você não entenda o motivo pelo qual estou te escrevendo tudo isso, agora, depois de tanto tempo. A verdade é que você é o meu pensamento recorrente de tantas noites. Do que eu fiz e do que eu poderia ter feito, de como a minha vida poderia ser diferente. Às vezes me pego pensando que talvez eu não seja capaz de me apaixonar de novo, e que a vida não é lá muito justa comigo por conta disso. Mas aí eu lembro de quanta sorte eu tive por ter na minha vida passado uma pessoa como você. E depois de todo esse tempo, essa minha certeza não mudou. Eu ainda vou lembrar de você ouvindo as canções que, pra mim, vão ser nossas, vou lembrar de você com determinados autores, frases e até cheiros.
Você é uma das minhas lembranças favoritas.


E eu nunca vou ter coragem de te mandar isso.

domingo, 18 de maio de 2014

E ali, então, inesperadamente, você disse que me amava. E meu coração sorriu com a certeza de que te amava, também, e muito. Minha boca quis te gritar as certezas e incertezas que há tanto guardava, mas o único reflexo que pode ter a tempo de responder foi o beijo. Olhos fechados, corações sorrindos, lábios conectados. A sucção nada mais era que a garantia de que aquilo era real, como o beliscão que a gente pede quando acha que deve acordar, mas que não quer ser acordado. A garantia de um carinho e de uma vontade de olhar junto. Quis te responder, mas ainda que te dissesse das mais variadas formas que o amor pode se expressar na linguagem oral, terias sido, de qualquer forma, o primeiro a dizer. Vi certa vez em um filme que, tendo um dito primeiro, o primeiro eu te amo nunca poderia ser, de fato, recíproco, podendo soar, inclusive, como uma obrigação a formalismos, ainda que tenhamos sempre fugido destes. Pensei, então, que também queria dizer o primeiro eu te amo e que você merecia também ouvir o primeiro eu te amo. Então, meu amor, te dedico nosso primeiro eu te amo escrito em um grafite 0.5 e enviado por correio a um endereco nem tao longe assim:
Eu te amo.
Por tudo em tão pouco.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

4 months ago.

Depois daquele dia, percebeu-se que as coisas estavam, finalmente e fielmente, sedimentadas. Em uma abstração necessária, divagou pelas tantas certezas outrora destruídas. A sensação da falta do concreto - e por isso entenda-se tanto os muros como as coisas tangíveis - lhe dava a insegurança, mas também a liberdade. Fugir não era mais uma opção bem como fora, não havia mais para onde. Nesta desconstrução, foram-se, também, bagagens que mais serviam de fardos, ainda que lhe possibilitasse diversas cargas sensoriais. A partir daquele momento, antes de se tomar uma atitide, a racionalização esquivou-se das pretensões, mesmo que o simples gesto fosse atravessar uma rua.

domingo, 29 de dezembro de 2013

Vem!

Não foi preciso ponderar muito acerca de 2013 para saber que foi um ano de luz. Luz em todos os sentidos. Por me tirar da condição de ignorância acerca de tantas coisas, por clarear a minha mente sobre o que eu já sabia e não sabia que já sabia, por me mostrar caminhos - estreitos, tortos, curtos, longos - que me levaram para encontros extremamente agradáveis. Poderia, também, enumerar as tantas descobertas, seja de lugares, cheiros, rostos, abraços. Alguns fizeram questão de se manter; outros, não. Alguns eu fiz questão de manter; outros, não. Encontros que me passaram verdade e que me fizeram ter vontade de transparece-la, também. Em cada sorriso o meu afeto foi depositado e o senti ricochetear de volta em uma reciprocidade que se fez presente a cada segundo.
De 2013 esperei muita coisa e sei que ele esperou muito de mim. Das tantas coisas que esperei, creio que muitas - a maioria - foi atendida, como em uma prece aos deuses mais poderosos do universo atendidas com uma facilidade que deu a entender que era a ordem natural das coisas. Aquela minoria não atendida decerto me decepcionou, não vou negar. Talvez porque era um dos vazios que mais ansiava ser preenchido. Sendo assim, esse vazio que não foi preenchido da maneira tal como queria, tratou de não ficar para traz e absorver as completudes daqueles outros - próximos, mas não iguais. Hoje, percebo que foi melhor assim. Cada vazio de uma vez, equilibrando completudes e vazios até que exista uma relação harmoniosa.
A insustentável leveza do ser e o fardo que ela representava deixaram se esquecer - ou fizeram-se esquecer - para dar lugar a uma construção de concretudes. Mas ainda estão lá. Guardados naquela última gaveta do armário aonde se escondem bilhetes de cinema e cartas de amor. Aquela última gaveta na qual se faz questão que se mantenham intocáveis memórias antigas, recentes, boas, ruins, todas.
Pro próximo ano, peço leveza, paz, um passo de cada vez, mais abraços, mais cheiros, mais rostos, mais verdades. Mais equilíbrio ainda que a mente se mantenha desequilibrada. Peço, do mesmo modo que pedi há 1 ano atrás, que seja um ano de cores e sensações misturadas em uma dança rítmica de quem mais-faz-feliz. Peço grito, indignação, luta, suor, mas também peço brisa, tranquilidade, música e onda do mar. Que uma alquimia seja feita disso tudo e que a transborde nos muros e becos por aí. Por fim, peço amor. Em todas as suas facetas e paletas.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

4:14 - (des)ligando-se

Hoje, 07 de outubro, às 04:14 de uma madrugada de um sono que não conseguiu me vencer, deu vontade de escrever. Eu sei que escrever me faz bem, que é a minha melhor terapia, mas acabo dedicando pouco tempo a isso. Sempre digo que é um habito a ser mudado, mas nunca mudo. Enfim. A vontade surgiu do desejo de me desligar. Venho me ligando a tantas coisas e, muitas vezes, isso extrai de mim mais do que posso/consigo doar. Assim, o desgaste é inevitável e se acaba fazendo muita coisa não tão bem assim. Esse ano foi muito importante pra mim. Me descobri de formas que não esperava. Algumas me agradam, outras não. Conheci pessoas lindas que me agregaram/agregam, outras não. O fato é que me conectei de uma maneira que exigiu muito de mim, tudo culpa dessa sede de conhecer de um tudo em um tempo de quase nada. Quebrei a cara, mudei opinioes, quebrei a cara de novo, reformulei-as. Tal como o ultimo post que escrevi, apesar de me engajar e militar ser, de fato, o que levo e vou levar da e pra vida pra sempre, estou precisando de um tempo pra mim.
Pensei que ficae de ferias iria me desligar, mas a pessoa nem assim consegue. Só eu mesma pra acumular ingles, espanhol e autoescola em plenas ferias. Acho que sou uma pessoa que mereceria ter um dia que dure 24hrs, so pra poder ter um dia, assim, só pra ela. Pra respirar, meditar, (re)pensar. Como sinto falta de pensar e divagar. Sinceramente, sao coisas das mais construtivas, pra mim. E que preciso, muito, pela minha condicao sã.
Muita coisa, por outro lado, vem dando certo, apesar de algumas portas insistirem em bater. Quando olho pra alguns meses atras, vejo que construi muito, sim. Preciso me orgulhar disso. Mas preciso, tambem, escolher no que investir. Vontades difusas não me fazem bem. Em um curto prazo, dois anos, acho que poderei respirar melhor. Talvez esses dois anos de pura loucura sejam para tirar o atraso de deixar de investir em determinadas coisas, mas estas, por sua vez, não podem se sobrepor a minha necessidade de ser - e ser essencia, vide postagem anterior.

Preciso encontrar um caminho e o caminho pra isso.

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

E eu escolhi não ser

Há algum tempo escrevi sobre a inconstancia e angustia causadas por nao saber o que se é. Quando há a despedida do que se foi, não há garantias de encontros imediatos do que será. E nesse meio tempo, às vezes curto e às vezes longo, sente-se a sensação de não se ser nada. De uma maneira que não se explica, a essencia parece que vai embora sem deixar espaco para despedidas. Não há como pedir que fique alguns instantes na tentativa de absorver algo do que se foi. E ve-se em meio ao vazio que é não ser. Achava eu que este período havia perecido e que a vida vinha me proporcionando inumeras oportunidades de encontros de tal maneira que mais parecia um bombardeio de informações, convites para lhe dar a mao. Na ansia de viver tudo isso, não vivi nada. Nada parecia me contemplar, nada se encaixava, nada condizia com o que estava em minha mente. E assim eu percebi, tambem, que se cobrava de mim a todo instante posicionamentos e junto deles vinha um fardo que nao poderia mensurar. Porque ali o importante nao era construir, dialogar, enriquecer. O importante era ser. E a ideia de ser se tornou um fardo quando se pensava as tantas possibilidades daquilo e o quao excludente e cruel aquele mundo podia fazer essa escolha ser. Me vi, entao, na situação contraria. Nao queria ser nada. Nao jogue seus estigmas e rotulos em cima de mim. Nao em um mundo que mais me vale dizer ser do que propriamente ser e de se saber o que se é. Porque o importante nao sao os momentos que constroem a escolha e sim o que voce se taxa, assim facilita os julgamentos.
To br continued

terça-feira, 7 de maio de 2013

Pessoas têm medo de chuva

Quando as primeiras gotas sinalizam que vêm chuva por aí, as pessoas já se armam. Guarda-chuvas são tirados de bolsas e se abrem instantaneamente como uma cobertura provisória que afasta um mal, janelas são fechadas como quem protege de uma situação de perigo. Sem muito se pensar, a chuva já foi banida antes mesmo de chegar. Foi afastada das peles, roupas, cabelos. Foi afastada de qualquer toque humano e encontrou somente o asfalto. Quem a recebeu foram as calçadas, prédios, construções. Foram aqueles que, por um motivo ou outro, não encontraram abrigo. Em uma situação semelhante a essa, há alguns dias atrás, senti os primeiros sinais que anunciavam quem estava por vir. Nuvens pesadas davam o alerta para aqueles que pretendiam fugir. Quando me dei conta que a atmosfera estava criada para as primeiras gotas aparecerem, torci para que as janelas não fossem fechadas. Eu precisava sentir aquele toque. O desconhecido frio daquelas gotas que por tanto percorreram, viram, sentiram e tocaram. Como se no segundo mínimo em que a minha pele fosse alcançada toda a carga da sua memória fosse transferida para mim. Precisava, também, que em troca eu dessa a ela toda a minha carga sensorial, das experiências que tive em contatos de outrora. Quando criança, não fugia da chuva. Pelo contrário, fugia para encontrá-la. Crianças não têm medo da chuva. O que eu mais queria era escancarar meu rosto pra que a chuva limpasse toda aquela carga que precisava se esvair de mim e que também trouxesse toda a sua energia de limpeza. Deixar as coisas pelo caminho para dar espaço para novas. Era isso que significava para mim.