terça-feira, 7 de maio de 2013

Pessoas têm medo de chuva

Quando as primeiras gotas sinalizam que vêm chuva por aí, as pessoas já se armam. Guarda-chuvas são tirados de bolsas e se abrem instantaneamente como uma cobertura provisória que afasta um mal, janelas são fechadas como quem protege de uma situação de perigo. Sem muito se pensar, a chuva já foi banida antes mesmo de chegar. Foi afastada das peles, roupas, cabelos. Foi afastada de qualquer toque humano e encontrou somente o asfalto. Quem a recebeu foram as calçadas, prédios, construções. Foram aqueles que, por um motivo ou outro, não encontraram abrigo. Em uma situação semelhante a essa, há alguns dias atrás, senti os primeiros sinais que anunciavam quem estava por vir. Nuvens pesadas davam o alerta para aqueles que pretendiam fugir. Quando me dei conta que a atmosfera estava criada para as primeiras gotas aparecerem, torci para que as janelas não fossem fechadas. Eu precisava sentir aquele toque. O desconhecido frio daquelas gotas que por tanto percorreram, viram, sentiram e tocaram. Como se no segundo mínimo em que a minha pele fosse alcançada toda a carga da sua memória fosse transferida para mim. Precisava, também, que em troca eu dessa a ela toda a minha carga sensorial, das experiências que tive em contatos de outrora. Quando criança, não fugia da chuva. Pelo contrário, fugia para encontrá-la. Crianças não têm medo da chuva. O que eu mais queria era escancarar meu rosto pra que a chuva limpasse toda aquela carga que precisava se esvair de mim e que também trouxesse toda a sua energia de limpeza. Deixar as coisas pelo caminho para dar espaço para novas. Era isso que significava para mim. 

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