domingo, 29 de dezembro de 2013

Vem!

Não foi preciso ponderar muito acerca de 2013 para saber que foi um ano de luz. Luz em todos os sentidos. Por me tirar da condição de ignorância acerca de tantas coisas, por clarear a minha mente sobre o que eu já sabia e não sabia que já sabia, por me mostrar caminhos - estreitos, tortos, curtos, longos - que me levaram para encontros extremamente agradáveis. Poderia, também, enumerar as tantas descobertas, seja de lugares, cheiros, rostos, abraços. Alguns fizeram questão de se manter; outros, não. Alguns eu fiz questão de manter; outros, não. Encontros que me passaram verdade e que me fizeram ter vontade de transparece-la, também. Em cada sorriso o meu afeto foi depositado e o senti ricochetear de volta em uma reciprocidade que se fez presente a cada segundo.
De 2013 esperei muita coisa e sei que ele esperou muito de mim. Das tantas coisas que esperei, creio que muitas - a maioria - foi atendida, como em uma prece aos deuses mais poderosos do universo atendidas com uma facilidade que deu a entender que era a ordem natural das coisas. Aquela minoria não atendida decerto me decepcionou, não vou negar. Talvez porque era um dos vazios que mais ansiava ser preenchido. Sendo assim, esse vazio que não foi preenchido da maneira tal como queria, tratou de não ficar para traz e absorver as completudes daqueles outros - próximos, mas não iguais. Hoje, percebo que foi melhor assim. Cada vazio de uma vez, equilibrando completudes e vazios até que exista uma relação harmoniosa.
A insustentável leveza do ser e o fardo que ela representava deixaram se esquecer - ou fizeram-se esquecer - para dar lugar a uma construção de concretudes. Mas ainda estão lá. Guardados naquela última gaveta do armário aonde se escondem bilhetes de cinema e cartas de amor. Aquela última gaveta na qual se faz questão que se mantenham intocáveis memórias antigas, recentes, boas, ruins, todas.
Pro próximo ano, peço leveza, paz, um passo de cada vez, mais abraços, mais cheiros, mais rostos, mais verdades. Mais equilíbrio ainda que a mente se mantenha desequilibrada. Peço, do mesmo modo que pedi há 1 ano atrás, que seja um ano de cores e sensações misturadas em uma dança rítmica de quem mais-faz-feliz. Peço grito, indignação, luta, suor, mas também peço brisa, tranquilidade, música e onda do mar. Que uma alquimia seja feita disso tudo e que a transborde nos muros e becos por aí. Por fim, peço amor. Em todas as suas facetas e paletas.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

4:14 - (des)ligando-se

Hoje, 07 de outubro, às 04:14 de uma madrugada de um sono que não conseguiu me vencer, deu vontade de escrever. Eu sei que escrever me faz bem, que é a minha melhor terapia, mas acabo dedicando pouco tempo a isso. Sempre digo que é um habito a ser mudado, mas nunca mudo. Enfim. A vontade surgiu do desejo de me desligar. Venho me ligando a tantas coisas e, muitas vezes, isso extrai de mim mais do que posso/consigo doar. Assim, o desgaste é inevitável e se acaba fazendo muita coisa não tão bem assim. Esse ano foi muito importante pra mim. Me descobri de formas que não esperava. Algumas me agradam, outras não. Conheci pessoas lindas que me agregaram/agregam, outras não. O fato é que me conectei de uma maneira que exigiu muito de mim, tudo culpa dessa sede de conhecer de um tudo em um tempo de quase nada. Quebrei a cara, mudei opinioes, quebrei a cara de novo, reformulei-as. Tal como o ultimo post que escrevi, apesar de me engajar e militar ser, de fato, o que levo e vou levar da e pra vida pra sempre, estou precisando de um tempo pra mim.
Pensei que ficae de ferias iria me desligar, mas a pessoa nem assim consegue. Só eu mesma pra acumular ingles, espanhol e autoescola em plenas ferias. Acho que sou uma pessoa que mereceria ter um dia que dure 24hrs, so pra poder ter um dia, assim, só pra ela. Pra respirar, meditar, (re)pensar. Como sinto falta de pensar e divagar. Sinceramente, sao coisas das mais construtivas, pra mim. E que preciso, muito, pela minha condicao sã.
Muita coisa, por outro lado, vem dando certo, apesar de algumas portas insistirem em bater. Quando olho pra alguns meses atras, vejo que construi muito, sim. Preciso me orgulhar disso. Mas preciso, tambem, escolher no que investir. Vontades difusas não me fazem bem. Em um curto prazo, dois anos, acho que poderei respirar melhor. Talvez esses dois anos de pura loucura sejam para tirar o atraso de deixar de investir em determinadas coisas, mas estas, por sua vez, não podem se sobrepor a minha necessidade de ser - e ser essencia, vide postagem anterior.

Preciso encontrar um caminho e o caminho pra isso.

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

E eu escolhi não ser

Há algum tempo escrevi sobre a inconstancia e angustia causadas por nao saber o que se é. Quando há a despedida do que se foi, não há garantias de encontros imediatos do que será. E nesse meio tempo, às vezes curto e às vezes longo, sente-se a sensação de não se ser nada. De uma maneira que não se explica, a essencia parece que vai embora sem deixar espaco para despedidas. Não há como pedir que fique alguns instantes na tentativa de absorver algo do que se foi. E ve-se em meio ao vazio que é não ser. Achava eu que este período havia perecido e que a vida vinha me proporcionando inumeras oportunidades de encontros de tal maneira que mais parecia um bombardeio de informações, convites para lhe dar a mao. Na ansia de viver tudo isso, não vivi nada. Nada parecia me contemplar, nada se encaixava, nada condizia com o que estava em minha mente. E assim eu percebi, tambem, que se cobrava de mim a todo instante posicionamentos e junto deles vinha um fardo que nao poderia mensurar. Porque ali o importante nao era construir, dialogar, enriquecer. O importante era ser. E a ideia de ser se tornou um fardo quando se pensava as tantas possibilidades daquilo e o quao excludente e cruel aquele mundo podia fazer essa escolha ser. Me vi, entao, na situação contraria. Nao queria ser nada. Nao jogue seus estigmas e rotulos em cima de mim. Nao em um mundo que mais me vale dizer ser do que propriamente ser e de se saber o que se é. Porque o importante nao sao os momentos que constroem a escolha e sim o que voce se taxa, assim facilita os julgamentos.
To br continued

terça-feira, 7 de maio de 2013

Pessoas têm medo de chuva

Quando as primeiras gotas sinalizam que vêm chuva por aí, as pessoas já se armam. Guarda-chuvas são tirados de bolsas e se abrem instantaneamente como uma cobertura provisória que afasta um mal, janelas são fechadas como quem protege de uma situação de perigo. Sem muito se pensar, a chuva já foi banida antes mesmo de chegar. Foi afastada das peles, roupas, cabelos. Foi afastada de qualquer toque humano e encontrou somente o asfalto. Quem a recebeu foram as calçadas, prédios, construções. Foram aqueles que, por um motivo ou outro, não encontraram abrigo. Em uma situação semelhante a essa, há alguns dias atrás, senti os primeiros sinais que anunciavam quem estava por vir. Nuvens pesadas davam o alerta para aqueles que pretendiam fugir. Quando me dei conta que a atmosfera estava criada para as primeiras gotas aparecerem, torci para que as janelas não fossem fechadas. Eu precisava sentir aquele toque. O desconhecido frio daquelas gotas que por tanto percorreram, viram, sentiram e tocaram. Como se no segundo mínimo em que a minha pele fosse alcançada toda a carga da sua memória fosse transferida para mim. Precisava, também, que em troca eu dessa a ela toda a minha carga sensorial, das experiências que tive em contatos de outrora. Quando criança, não fugia da chuva. Pelo contrário, fugia para encontrá-la. Crianças não têm medo da chuva. O que eu mais queria era escancarar meu rosto pra que a chuva limpasse toda aquela carga que precisava se esvair de mim e que também trouxesse toda a sua energia de limpeza. Deixar as coisas pelo caminho para dar espaço para novas. Era isso que significava para mim. 

terça-feira, 9 de abril de 2013

Sutilezas

Mais um pra série 'sem nexo algum'.

A sensibilidade deveria ser mais explorada pelas pessoas e, porque não, mais estimulada por as que as cercam. Se não puderes estimular, que pelo menos não se reprima. Que a gente possa ser, e se mostrar assim, tudo aquilo que cabe no peito. É difícil ser, pensar, construir tanta coisa e na primeira tentativa de soprar pro mundo essas ideias um alguém tentar privar, desmerecer, tornar pequeno aquilo que pra você tem uma grandeza sem igual. 

* Nota 1: Eu deveria me lembrar mais vezes do quanto escrever me faz bem e tornar isso uma rotina.

Eu realmente ainda não entendo a motivação que esse alguém teria para tudo isso. Tento pensar que não são sentimentos ruins, talvez seja apenas a ausência de sentimentos bons. (Sim, é diferente) Talvez seja, se adentrarmos um pouco mais e dermos espaço para uma imaginação positiva, uma maneira de querer o bem. Não é a melhor, na minha opinião, mas imagino uma situação em que uma pessoa te preze tanto que crie uma proteção tamanha transformada em medo do que o mundo possa fazer com tal sensibilidade. Ou, talvez também, há um alguém que por não acreditar mais na possibilidade do sensível queira mostrar-nos as possibilidades mais concretas de se ser feliz. 

E eu queria dizer pra esses alguéns que, do pouco que já vivi em relação a tantas pessoas por aí, e do pouco que sei nessa minha vida meio torta, as pessoas que se permitem sentir e que exalam a sensibilidade em todos os seus poros são as mais felizes. Felicidade sem medo e hora, a todo lugar e instante. Que delícia! Não julgo quem pense diferente, pelo contrário, há sempre motivos, justificativas, explicações. Penso eu, porém, que ainda é (e há) tempo. Tempo de se permitir. E isso é um recado também para mim.

Tanta leveza guardada, pra que? 

Às vezes eu me percebo dando importância a tantos sentimentos pequenos que, no final, só fazem mal a mim mesma. Hábito a ser mudado. Porque quando a gente se esvazia das coisas ruins damos espaço para que coisas boas nos preencham. Essa semana li que não devemos esquecer que a vida é, além de tantas coisas, um organismo vivo. Um ecossistema. Quando emitimos coisas ruins, seja com palavras, gestos, atitudes, pensamentos, elas voltam também pra gente. Na maioria das vezes talvez sequer seja intencional, mas inconscientemente nos deixamos preencher por negativismo quando poderíamos estar guardando espaços para sutilezas da vida. 

Vale a (auto) reflexão.



terça-feira, 19 de março de 2013


“O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás…
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem…
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras…
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo…
Creio no mundo como num malmequer,

Porque o vejo.
Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender…
O Mundo não se fez para pensarmos nele

(Pensar é estar doente dos olhos)

Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo…
Eu não tenho filosofia; tenho sentidos..

Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,

Mas porque a amo, e amo-a por isso

Porque quem ama nunca sabe o que ama

Nem sabe por que ama, nem o que é amar…
Amar é a eterna inocência,

E a única inocência não pensar…”

Alberto Caeiro, em “O Guardador de Rebanhos”, 8-3-1914

domingo, 3 de março de 2013

felicidade do tamanho do sol.

Quando toneladas saíram de suas costas, tudo pareceu fazer sentido e ter valido a pena. O suor deu lugar à lágrimas misturadas a um sorriso torto de quem não conseguia acreditar que aquilo tudo era verdade. Escritos não seriam nunca suficientes para descrever aquela sensação. O sentir do primeiro abraço de quem tanto acreditou em você, a emoção de ver as letras cintilantes denunciando que tudo aquilo era verdade sim. O sorriso que não cabe em si. É muito mais do que a aprovação em uma universidade. É um primeiro passo pra o resto de toda uma vida, o impulso, o empurrão necessário pro sonho. Sonho esse que se tornou verdade e que deu espaço para tantos outros serem sonhados e realizados. Como em um ciclo vicioso que só traz o bem.

Na minha atual condição, de estudante da tão sonhada "Faculdade de Direito do Recife", eu só tenho a agradecer por tantas cores que vêm colorindo a minha vida. Hoje, 27 de fevereiro de 2013, o vermelho tomou conta do meu dia. O vermelho de vencer, de lutar, de ir  atrás do sonho. De realização. Veio também o amarelo, o amarelo da "felicidade do tamanho do sol" que permitiu uma nova fonte de iluminação e de emissão de energias tão boas à minha vida. Ainda não tenho nem ideia do que estar por vir, mas que vontade danada de viver tudo isso. Sensação de dever cumprido, de coração e feliz. Obrigada, vida. Obrigada.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Vontade de ir para o mundo

"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"

Colocar a cara tapa pra tantas coisas e pessoas. De fazer jus ao peito empirista que bate aqui dentro. Passar uma hora sozinha assistindo o cais me dizer o que a vida tem pra mim. Sentir o cheiro do rio cheio e querer poder mergulhar ali. Caminhar entre corredores espaçosos disputando a visão de prateleiras com outras pessoas. Sentir aquela inveja boa e branca de quem tá levando tantos livros. Sair e olhar mais uma vez o rio em uma despedida de quem muito em breve voltará.Pegar um ônibus vazio e passear sem rumo e hora pra voltar. E até desejar pegar o ônibus errado só para passar mais tempo dentro dessa estufa de reflexão sentindo a adrenalina de  quem não sabe onde vai chegar. As tardes que gastei assim foram as mais deliciosas da minha vida. Daquelas que a gente não divide com ninguém, só com a gente mesmo e chega em casa sorrindo como quem esconde um segredo. Não há nada demais a ser escondido. Mas a sensação de ter algo só seu, mesmo que seja um momento, é tão bom. De guardar uma memória que ninguém vai ter igual, pensamentos que não seriam os mesmos se estivesse acompanhado, sensação boa danada. 

Da mesma maneira em que recebo o mundo sozinha (constantemente, aliás. tenho tido esse defeito de me  afastar cada vez mais das pessoas e afundar nesse mundo particular), tenho sentido vontade de explorar cada vez mais ao lado daqueles que me fazem bem. Um trecho que eu amo fala "Em tempos em que quase ninguém se olha nos olhos, em que a maioria das pessoas pouco se interessa pelo que não lhe diz respeito, só mesmo agradecendo àqueles que percebem nossas descrenças, indecisões, suspeitas, tudo o que nos paralisa, e gastam um pouco da sua energia conosco, insistindo." e é assim que eu tenho visto. É injusto, com os outros e comigo, me privar disso. Ainda mais quando esta privação está associada a um comodismo desnecessário que não me leva a lugar algum. E sempre que quebro esse bloqueio obrigo a mim mesma que o faça mais. É que às vezes eu esqueço do bem que certas pessoas me fazem e por saber que elas sempre estarão lá acabo me ocupando de coisas que no final não me dão fruto nenhum. E nessa minha vontade de me jogar pros braços da vida, eles estarão lá. Porque são eles que me dão energia e vontade de viver. São eles que deixam qualquer cerveja quente boa, que me fazem querer ir pro local mais estúpido só para te-los por perto. Talvez eles nem saibam o quanto são importantes para mim, mas acredito que os tenho com amor em cada sutil gesto que demonstro.

Voltando a primeira situação e deixando esse texto ainda mais incoerente do que o normal. Percebi que fico me restringindo de tantas coisas em nome de um conceito de "certo e errado" que não existe. Todas as minhas concepções, principalmente aquelas pelas quais eu tenho mais apreço e acho mais construtivas, ficam na teoria de um papel amassado e jogado no primeiro lixeiro encontrado. Do que adianta, então? Acabo me rendendo a convenções morais que não passam de pretextos inúteis para inibir as pessoas de serem felizes. É como se estivéssemos vivendo em "1984" de George Orwell e fossemos controlados em cada pequena atitude para seguir um regime premeditado por aqueles que juram deter a verdade. A verdade é tão subjetiva, própria de cada um, que todos os seus conceitos deveriam ser extintos. E eu, a idiota mor aqui, insisto em seguir tudo isso por ser mais fácil. Alguém grita pra mim, por favor: "Não adianta deixar tudo na teoria." Eu quero viver! Eu quero tomar o meu primeiro porre, quero chegar em casa de madrugada sem noção de onde estou voltando, quero conhecer novos rostos e histórias. Que minha mãe não leia isso, mas até a minha psicologa me aconselhou a ser um pouco irresponsável. Eu quero fugir de todo esse sistema, eu não posso estar inclusa em algo tão perverso e estúpido: A máquina de destruir sonhos e reprimir vontades.

A felicidade incomoda. Essa é a verdade. Ninguém nesse sistema aguenta assistir o outro ser feliz. Creio que isto acontece porque o ideário da felicidade foi criado como um mito, passando de geração a geração, como se ela não existisse. Ou que, mesmo se existisse, era tão inalcançável que não valia a pena nem tentar. A felicidade é tão simples, que meu Deus, parece que inventaram essa ladainha toda por pura maldade! A felicidade é poder dar bom dia para sua mãe, é assistir o nascer do sol, é tomar banho de chuva, é descobrir que aquele salgadinho da sua infância ainda existe, é tanta coisa! Mas as pessoas insistem em pensar que felicidade é chegar aos 50 com uma bela estabilidade financeira, dois filhos (se muito), um apartamento espetacular no melhor bairro da cidade, uma casa de praia/campo e os filhos "encaminhados pra vida". Eu tenho náusea só de imaginar a minha vida assim. Ser feliz é tão mais do que isso. Aliás, ser feliz é "somente" questão de ser. (O que é muito, atualmente)

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

à deriva

Tanta ideia na cabeça e nenhum jeito de me expressar. Queria registrar o que eu to sentindo. Afinal, é o propósito de tudo isso aqui. Sinto que estou em uma fase de eminente mudança. E nesse meio termo não sou nem o que fui nem o que vou ser. Não sou a definição de nada e ao mesmo tempo quero ser tudo. Conflito de identidade, sei lá. Mas que vem perdurando por duros meses. Me despeço de tantas coisas. Coisas que gostaria de deixar para trás e outras que gostaria de levar, mas sinto que não há mais espaço para mais bagagens. Quero sentir meus ombros leves, que as toneladas se dissolvam em meio as incertezas. É preciso dizer adeus a memórias, pessoas, lugares. Por mais que doa, por mais que martele a sensação de ter esquecido algo, é necessário. Afastar o que faz mal, o que não mais acrescenta coisas boas, reciclar-se. Eu preciso ser mais corajosa, colocar uma ideia na mente e levantar da cadeira dizendo oi para o mundo. Quero dar um salto, mas preciso do impulso. O inconsciente me puxa para trás pelo medo de tentar, de descobrir. Não sei qual seria a metáfora mais válida: da metamorfose da borboleta ou da muda de pele das serpentes. O que está por vir?

cabresto compulsório


A vida toda eu me vi condicionada a optar por um dos lados das verdades paradoxais. Talvez não tenha me dado conta disso na maior parte do tempo, mas hoje tenho isso como certeza. Percebi isso da forma mais estranha possível, quando li uma frase de Santo Agostinho e gostei. Mas como assim se o meu favorito era Tomás de Aquino? Não sei de onde vem essa imposição, se é da vida, de mim, do mundo. Mas ela está permeada em tudo e isso é assustador. Gostar de Almodóvar não te impede de também curtir Tarantino, se afeiçoar por literatura latina não te faz incapaz de curtir uns autores londrinos e vice e versa. Acho que essa ideia parte de um principio de que você tem que provar constantemente ser o que aparenta pros outros e essa ideia, sinceramente, é terrível. E eu, sem perceber, acabava me rendendo a tudo isso. Tudo parece impelir que as pessoas abram seus horizontes e explanem ideias, como um cabresto que te direciona para um único caminho. Não sei se fico horrorizada ou feliz ao perceber tudo isso. É estranho e ao mesmo tempo bom. Estranho por não ter me permitido tanta coisa por tanto tempo e bom por saber que isso não vai mais acontecer. 

Mas fica para outro dia


E meses passaram com essa rotina de procurar no desconhecido o que era tão conhecido dela. De idealizar com rostos de quem mal sabia os nomes uma vida inteira. E de querer fazer com todos o que lhe foi negado fazer com um só. A psique talvez tenha alguma teoria ou transtorno para explicar o que ela até hoje não sabe dizer. E, algumas vezes, ela realmente acreditou que a vida havia seguido da maneira que deveria depositando todas as esperanças nas mãos daqueles que as lhe ofereciam. E se deixou levar como sabia que ia acontecer. Talvez ela não se arrependa de nada disso. Talvez ela saiba que esse foi o caminho torto que a vida se utilizou para mostra-la que o tempo, ao contrário do que ela imaginou, não tinha sido tão eficaz para anular verdades, tal como ela pensara. Ainda bem.

turbulência


E ela finalmente percebeu que por mais que o tempo tivesse passado e carregado consigo erros e lembranças antigas, ela ainda levava fraquezas presentes em outros tempos. E percebeu que talvez não fosse capaz de deixá-las de lado, joga-las fora como bilhetes antigos ou esconde-las como retratos indesejados. Não fazia sentido mergulhar nisso novamente se ela mesma sabia que estaria novamente fadado ao fracasso. Doeu reconhecer que ela não era capaz. Ao mesmo tempo, pensou também que deveria começar a reconhecer que certas características suas não estavam gravadas em sua pele levando-a a um futuro certo e premeditado. Ela era sim capaz de esquecer feridas e palavras proferidas, mas era aparente que o seu orgulho se sobrepunha a vontade de olvidar.
Queria mergulhar no mar e fazer com que as águas turbulentas de uma praia distante fossem capazes de limpar todas as lembranças ruins. Em momentos como esse, desejava que não possuísse a tal memória de elefante da qual tanto se orgulhava. A verdade é que não conseguia ter uma memória seletiva e nem muito menos uma ferramenta para limpar o que tanto queria esquecer. O que fazer quando a vontade de ir adiante compete com o orgulho e com a sensação de estar dando passos em falso? Ela realmente não sabia. Não sabia o motivo pelo qual tudo aquilo estava acontecendo e tinha medo de mais uma vez estar idealizando. Houve dias em que ela esteve certa de que o melhor era investir em páginas brancas e passou semanas pensando assim, mas a qualquer sinal ela voltava a sentir a falta dos rabiscos daquelas páginas amarelas. Culpava-se por isso. Muito. Mas era mais forte do que ela.
E se tudo corrobora para que seus desejos sigam na direção oposta da maré, porque insistir tanto nisso? Se sabe que não é capaz e se sabe que, mesmo que fosse, não seria nada possível e fácil, porque ainda levantar acreditando nisso?
 O lírico desse texto deveria dizer “esquece, menina”. Mas a vida só pode estar gostando de jogar com ela. Jogar como se ela fosse um brinquedo manipulável segundo as vontades de terceiros? Ou mesmo que fosse segundo a vontade de um só, dele, não era nada justo. Então que o lírico grite “Vai atrás dos teus sonhos, menina. Mas não se esquece de ser feliz.”



corpo, alma, mente.


Dia permeado de cheiros e emoções. Sensações que, até então, era duvidosa a possibilidade de senti-las. Quando a noite anterior denunciou que o destino tem a tendência de brincar com o jogo das probabilidades, ela lembrou que não havia jogado todos os dados. A verdade é que aquela mente, agora, de ilusória não tinha mais nada e que a perda das utopias não havia sido tão ruim assim. A senilidade permitiu que ela enxergasse certas coisas com novos olhos e permitiu que ‘certas coisas’ se tornassem ‘coisas novas’. Não existia mais o medo do desconhecido, de quebrar a cara, de se decepcionar. Hoje, ela percebeu que os anos que haviam passado tinham lhe dado sim a maturidade, mas que, acima de tudo, tinham lhe dado a possibilidade de voltar atrás sem que isso significasse andar para trás. Redescobrir-se, reestruturar-se, redesdobrar-se. Porque naquele peito ainda batia um coração que ansiava por mais liberdade, que ansiava que ela chave fosse jogada fora. Como já disse Milan Kundera, “sem dúvida, ela também acreditava bobamente que seu corpo podia servir de escudo de sua alma”. E essa alma estava presa a um corpo que talvez não fizesse jus a ela. Não por motivos estéticos ou coisas parecidas, mas sim por não demonstrar e expressar o que é nutrido lá dentro. E ela pede anistia daquela situação que há muito tempo não aguenta mais. Grita para o mundo que desnude os corpos para que, então, deem lugar para a alma. Não seria mais eficiente que, ao invés de externamente apresentarmo-nos como corpos, estivéssemos submetidos a uma primeira avaliação de nossas almas? E que, assim, os nossos corpos estivessem como uma camada interior apenas para nos dar uma estrutura física? 
Com todo esse jogo de perguntas, ela começou a refletir que, talvez, isso fosse possível. Lembrou-se de quando sentia as almas extravasassem em olhos que sorriem e provavelmente seria por isso que ela gostasse tanto de pessoas que o fazem, ou melhor, que o conseguem. Será que um dia iria conseguir? Será que um dia iria voltar a sorrir com os olhos? Queria que a vida respondesse esses questionamentos o quando antes, mas sabia que não se funcionava assim. Pensou na última vez em que o fizera e não tinha tanta certeza dessa cronologia. Talvez há um ou dois anos atrás. Nesse tempo, suas certezas eram fixadas da mesma maneira em que se desfaziam em segundos e ela não se incomodava com essa situação. Sorria para tudo e todos pela simples vontade de sorrir, pela ideia que um sorriso poderia trazer a outros rostos, pela chance de estes repetirem esse ato. Como em uma corrente contínua, ela queria ser o começo.  Não tardou para que as certezas fossem mais dissolvidas do que fixadas e não havia mais contrapesos para serem postos na balança. O déficit a incomodava porque, apesar de tudo, ela sentia falta de concretudes. Mesmo sabendo disso, insistia, pois acreditava que, uma hora ou outra, algo viria para compensar e equilibrar novamente. Esperou. Por um, dois, oito meses. A possibilidade de desistir a assustava, porque a de lutar contra isso parecia mais honrável. Não foi o suficiente.
Ela se viu sem os seus pesos e a balança foi encostada. Talvez tenha sido esse o momento em que ela parou de sorrir com os olhos. Olhando para trás e percebendo tudo isso, pensou que não deveria depender de ninguém, nem dos pesos e nem da balança. Porque já ouviu algumas vezes que um dos segredos para o equilíbrio é permitir-se desequilibrar. Talvez dar chances para o improvável seja uma situação de desequilíbrio, mas que seu saldo pode ser sim positivo. 

sábado, 2 de fevereiro de 2013

"Acho que eu não deveria me preocupar. Se alguma coisa vai acontecer com você, acontece, não dá para fazer acontecer. E nunca acontece enquanto você não passa além do ponto em que se importa se acontece ou não. Acho que é para seu próprio bem que as coisas acontecem assim, porque depois que você para de querer as coisas é quando ter as coisas não vai mais enlouquecer você. Depois que você para de querer as coisas é que você consegue lidar com o fato de ter as coisas. Ou antes. Mas nunca durante. Se você consegue coisas quando realmente queria as coisas, você enlouquece. Fica tudo distorcido quando alguma coisa que você realmente quer cai no seu colo."

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

"Uma mulher não perdoa uma única coisa no homem: que ele não ame com coragem. Pode ter os maiores defeitos, atrasar-se para os compromissos, qualquer coisa é admitida, menos que não ame com coragem. Amar com coragem não é viver com coragem. É bem mais do que estar aí. Amar com coragem não é questão de estilo, de opinião. Amar com coragem é caráter. Vem de uma incompetência de ser diferente. Amar para valer, para dar torcicolo. Não encontrar uma desculpa ou um pretexto para se adaptar. Não usar atenuantes como “estou confuso”. Amar com fúria, com o recalque de não ter sido assim antes. Amar decidido, obcecado, como quem troca de identidade e parte a um longo exílio. Amar como quem volta de um longo exílio. Amar quase que por bebedeira. Amar desavisado. Amar desatinado, pressionando, a amar mais do que é possível lembrar. Amar com coragem, só isso!"

Carpinejar sabe das coisas.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

considerações iniciais de 2013.

te pedi que viesses melhor do que se foi e percebi que não estava pedindo tanto assim. te pedi que viesses cheio de cores e, até agora, não estas me decepcionando. meu coração está meio afoito, como passarinho que está prestes a ser liberto, mas eu peço calma. é tão bom se encher de verdades de descobri-las também. toneladas foram tiradas das minhas costas, sinto falta do peso, mas ele ainda deixou uma dor. aos poucos, a estrutura vem ganhando forma. nova e forte.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

E a vida vem mostrando - no momento errado, mas mostrando - quem realmente está ao seu lado. Começando por pistas que passam despercebidas, passando por pormenores detalhes, até que está quase estampado na cara com letras garrafais. Talvez até as letras garrafais estivessem sempre ali, mas a cara de bom anjo ou a voz sutil de quem quer agradar funcionaram como maquiagem. Mas o destino fez questão de enviar um aguaceiro, daqueles que inundam e desnudam tudo e todos. E limpa toda a farsa que a face quis ocultar. Às vezes, são pessoas tão inesperadas que você se sente um tolo por cogitar a tal hipótese da mentira e passa a se culpar por ter pensado assim. Mas os dias são reveladores, uma boa mentira, por melhor que seja, de perna curta ou não, uma hora desmorona. 

E hoje eu quero me jogar nesse aguaceiro para que não só limpe qualquer coisa que oculte as minhas verdades, mas também que me escancare para o mundo. Eu não quero passar por essa situação, nem muito menos fazer alguém sentir por mim o que eu sinto agora por determinadas pessoas. Porque a mentira dói muito e o cinismo mais ainda. E o dia a dia tá ai, parecendo que quer testar o meu limite de encarar tudo isso, testando até aonde vai a minha capacidade de driblar essas situações. A verdade, destino, é que eu não consigo. Porque eu procuro me encher de verdades e passo também a acreditar que posso procurá-la nas esquinas e becos por aí. E quando me deparo com mentiras o coração anseia e pede para que eu fuja disso.

Aliás, fugir pode ser um dos meus maiores defeitos. É que, dentre as maneiras mais difíceis  fugir é a mais fácil. É abandonar o barco antes dele afundar, mesmo sabendo que você por tanto tempo não se incomodou com o furo que sempre estivera presente ali. Mas, agora, qualquer brecha que fure as verdades e que se permita preencher-se de mentiras não é mais bem-vida. E nunca foi, mas hoje é de uma maneira diferente, porque a permissividade não existe mais, não existe mais aquela tolerância de outrora que tanto me fazia mal, a omissão pediu bilhete de partida e sem data pra voltar. 

Novos ares. É o que eu preciso. Preciso de um último suspiro para esse indolente coração voltar a acreditar no que sempre lhe fez bem. E, se a ordem para o ano é não acomodar com o que incomoda, que se comece por isso. Limpeza. De bolsos, gavetas, corações. De mentiras, de pessoas que não nutrem o bem. De tanta energia negativa que está me rodeando. Mas justo agora, coração!? Agora. Porque a verdade, por ser tão do bem, não pede licença nem tem hora pra chegar. Existe um sorriso de boas vindas só para ela, mesmo quando a porta está entreaberta  e um aviso de "Não incomode" está estrategicamente pendurado, ela sabe que não é para ela.


sábado, 5 de janeiro de 2013

“Eu sei que sempre foi muito complicado falar com as pessoas, mas em mim essa dificuldade não foi falta de amor, isso não, foi talvez a memória de certas lutas, a agressão repentina daqueles que eram meus irmãos, mas eu estou certa de que a maior culpa coube a mim, eu tinha uma voz tão meiga, tinha um rosto anêmico, um olhar suplicante e todas essas coisas fazem com que os outros se irritem, afinal ser assim é ser muito débil para um tempo tão viril como é o nosso tempo.” Hilda Hilst

''Duvida da luz dos astros,
De que o sol tenha calor,
Duvida até da verdade,
Mas confia em meu amor'' 



É que eu esqueci que antes de abraçar o mundo eu precisava abraçar você. E agora quero vencer essa barreira criada inconscientemente por mim e ir te abraçar e fazer carinho. Você está a, no máximo, dois metros de mim. E eu te olho cedendo ao sono e desejo que tenha sonhos bons. Eu não vou mais calar o meu coração, mesmo que, às vezes, ele teime tanto e solte borboletas no meu estômago, ele vai voltar a ter voz. E eu vou tirar essa máscara que te esconde o quanto eu sou feliz contigo e eu vou estender meus braços na primeira oportunidade. Eu vou.

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Porque hoje eu acordei com vontade de voar

Ele percebeu que ela estava diferente. Percebeu que os motivos dos seus sorrisos, agora, eram outros, que as músicas que despertavam a sua atenção não eram mais as mesmas e que as  estantes estavam tomadas por novos títulos. Ele percebeu que os anos haviam feito bem para ela. Gostava de quem ela havia sido, mas, de uma maneira diferente, gostava de quem ela era agora. Gostava da sensação de não saber nada ao seu respeito, ansiava descobrir o que dava ritmo aos seus pensamentos. Ela não sabia o que pensar sobre tudo aquilo. Tentava seguir a sua vida como se nada houvesse acontecido, mas havia sempre um sinal que lhe lembrava que tudo estava diferente. Se ela havia mudado, o mesmo acontecera com ele. O tempo parece não abrir mão de ninguém. Contudo, ela não tinha certeza se, para ela, as mudanças do outro lado poderiam ser boas. Mundos foram descobertos, pessoas foram exploradas, ombros foram esbarrados. E o destino ainda teimava em querer se desdobrar pra uma linha que, até então, tinha tudo para ter chegado ao seu fim.