segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

o dia das cores.

...que precede o ano dos tons.

Resoluções para 2013. Pretensões a serem tornadas realidade. 

- Passar no vestibular
- Comprar um cachorro
- Fazer trabalho voluntário
- Estudar inglês
- Estudar espanhol
- Fazer exercício físico
- Fazer um curso de fotografia
- Fazer um curso de História da Arte
- Mudar o cabelo
- Trabalhar
- Escrever mais
- Sentir mais
- Pensar menos
- Aprender a tocar violão
- Ler 100 livros
- Assistir 100 filmes
- Fazer uma coleção de algo
- Tomar banho de chuva
- Fazer uma tatuagem
- Fazer mais um furo na orelha
- Fazer um piercing
- Entrar na Yoga
- Viajar
- Fazer cartas
- Enviar as cartas
- Olhar as coisas além do óbvio
- Não acomodar com o que incomoda
- Voltar para a psicologa
- Fazer a diferença no dia de alguém
- Escutar mais música
- Estudar sobre música, literatura e cinema.
- Encontrar um hobby

(to be continued...)

domingo, 30 de dezembro de 2012

amar.

O título já declara o clichê que vem por aí. 

Há algum tempo venho pensado que posso estar construindo tantas idealizações e acreditando em tantas verdades, que às vezes não passam de suposições ilusórios, pelo fato de querer me entregar ao primeiro que puxar a minha mão. Mas, há alguns dias, percebi que não era carência e sim amor demais. É que a gente guarda tanto amor depositado que tem vontade de extrapolar pelos cantos e muros. E tem vontade de amar tudo e todos. Tem vontade de sorrir, abraçar, fazer o bem. Porque, no final, amar é isso. E pra sentir esse brotamento no peito não é preciso um alvo certo, uma pessoa para corresponder. Amar é mais que isso.

E eu entrego sim muito amor ao mundo e hoje eu tenho vontade de beijar, abraçar, fazer carinho a todo instante. Porque amar é bom. E amar o mundo, melhor ainda. E ele me devolve multiplicado. Às vezes da forma que convém, às vezes não; mas devolve e devolve bonito. Hoje eu tenho vontade de gritar pra ver se diminui o tanto que tem aqui dentro pra ser posto pra fora, mas quanto mais a gente externa, mas o peito percebe a capacidade que tem de se encher. Passei a não me culpar mais pelas idealizações, a não me reprimir diante da vontade do amor. A deixar ser... independente de onde for. E de querer que seja mais em alguns lugares do que em outros, mas que seja. Que encontre verdades em outros corações, que encontre também a vontade de amar, de fazer o bem. Que encontre outros laços para serem feitos, nós para serem desatados.

Corações novos para um mesmo endereço

"Mas as coisas findas
Muito mais que lindas,
Essas ficarão."

Os ventos tardaram a voltar a soprar novamente naquela direção, mas o destino era tão certo em tempos de outrora que o caminho havia sido decorado. Os pés eram os mesmos, mas os passos estavam mais firmes, certeiros. Anos haviam passado, mas aqueles rostos se reconheceriam em meio a qualquer multidão. Os sorrisos estavam diferentes. Carregavam um ar senil ao mesmo tempo feliz. E a leveza dessa felicidade proporcionou uma atração mútua. Em outros tempos, aquela felicidade  passou a ser exalada com dificuldade. O nó na garganta e o aperto no peito reprimiam qualquer inclinação de um breve sorriso. Este, quando aparecia, mais soava como uma obrigação, uma tarefa árdua. Mas não agora. O tempo. O maior e mais eficaz modelador. O agente mais certeiro. 

Quando o carinho fala mais alto, tudo parece não fazer mais sentido. Ela, ao vê-lo depois de tantos anos, teve em um primeiro momento a estranha vontade de afagar os seus cabelos. Os olhos eram os mesmos. Os olhos que sorriem. E gritam, e pedem e chamam. Ela não foi. Ele a encarou, a fitou, a desafiou. Não foi suficiente. Mas ele a conhecia, sabia de suas teimosias e de sua tendência a ir até o último instante. Distraiu-se com conversas perdidas, riu alto, tentou chamar a atenção dela. Fitou-a por trás dos ombros, pensou em ir lá. Decidiu ficar.

Ensaiou a situação por algumas semanas, analisou, remendou os últimos fatos. Não havia muito sentido naquilo ou talvez não houvesse há alguns anos atrás. Mas algo o instigava, puxava como um imã de uma bússola para lhe orientar a direção. E ele quis mais daquilo. Algumas considerações foram feitas antes das primeiras atitudes, pensou tanto que chegou a pensar em desistir. Mas estava feito. Solicitação enviada.

Ela, naquele mesmo dia, quis ligar. Quis ouvir aquela voz que não ouvia há tanto tempo, quis sentir o cheiro que conhecia perfeitamente e que parecia ainda estar impregnado em seu travesseiro. Naquela manhã, pensou em cumprimentá-lo, talvez também desafiá-lo para um jogo de quem-aguenta-mais, mas ponderou que não era um momento oportuno. Quando viu o que ele havia feito, quando sentiu sua vida novamente inundada pela presença daquele sopro, entrou em um momento reflexivo inconsciente e impulsório que a fez em uma fração de segundos dizer sim. Respirou, enfim. E percebeu que não havia lhe tirado pedaço algum, talvez não do que havia restado desde a última vez em que ele se foi.

E aquela noite foi permeada por uma conversa vazia, mas gostosa, daquelas que a gente estende em uma mesa de bar e torce para que não dê a hora de voltar para casa. Ela se divertiu como há tempos não fazia; ele venceu a resistência que ela impusera em um primeiro momento e foi até o fim. Sem saber o que estava fazendo nem o porquê, ele sentiu que havia feito a coisa certa. Ela, sem saber menos ainda, sentiu-se bem por ser invadida. Porém, os sorrisos fáceis não foram suficientes para vencer o embate que uma cortina de ferro se impusera entre eles. O tempo, pelo visto, ainda tem muito trabalho a fazer.

Dois corações diferentes dos de outrora, mas pulsando em direção a um mesmo endereço conhecido. Sem razão ou lógica, e contrariando todas as certezas dadas pelos anos, parece que a adrenalina causada por aquele penhasco que separava os dois servia de atrativo para ambos. E a vida foi seguindo e segue, até que a razão se dilua de vez em meio ao sentimento, e que não seja mais suficiente para os dizeres não.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Carta a uma mente que acredita


Porque, independente das pedras que surgem no caminho, eu ainda acredito que exista gente que acredita no amor. Eu acredito que existem pessoas que o vêem de maneira especial, eu acredito que ainda há pessoas que nasceram para isso. Algumas vezes eu ouço "fulano nasceu para essa profissão", "sicrana nasceu para ser mãe". Eu gostaria de um dia encontrar alguém que eu olhe, interrogue com os olhos e chegue a conclusão de que nasceu para amar. 

Na verdade, talvez todos tenham nascido para isso, mas o mundo os faz acreditar que existem vocações mais dignas, que é melhor se basear nas concretudes do que se entregar ao que não é tangível. Dessa maneira ou de outra, eu ainda acredito. Acredito porque conheço a força, o poder, a magia e maestria que rege esse sentimento, sentimento esse que por sua vez foi criado para reger o mundo, mesmo que o mundo force-o a acreditar que não passa de uma idealização.

Esse maestro do mundo planta uma semente no peito de todo mundo e junto entrega um manual de instruções. Alguns não chegam a saber que ele esteve ali, outros fazem do manual de instruções papel de rascunho, outros mesmo lendo e relendo preferem acreditar que é um livro de piadas. Mas há aqueles que leem e seguem direitinho e há também os meus prediletos: leem, releem e faz do amor uma versão própria. Seu caderno está rabiscado, fórmulas foram testadas para torná-lo ainda melhor, a semente foi alimentada com cautela, precaução, mas também com um toque especial, um toque único.

E ali foi nascendo uma planta bonita, que incomoda o peito com um incomodo bom. Do seu caule nascem borboletas que caminham para o estômago causando um reboliço, e no topo a mais bela flor aparece. Até que chega um dia que esse mais belo amor que foi cultivado, essa florzinha lá em cima encontra um alguém para presentear. E flores são trocadas, as árvores são regadas e cuidadas mutualmente, porque agora não se trata mais de dois, mas de um só.

agosto; 2012.

Eu pude escutar o seu grito de dor naquelas primeiras semanas de janeiro, mesmo a alguns quilômetros de distância. Eu escutei perfeitamente quando você sussurrou baixinho pedindo bandeira branca, mesmo quando nossos orgulhos teimaram em tapar os meus ouvidos. Eu pude ouvir como música quando os teus olhares se cruzaram aos meus, o coração pulsou tão forte que nem mesmo aquela multidão poderia abafa-lo. Eu escutei teu sorriso torto fingindo que é feliz, escutei teu pedido de socorro me implorando para te tirar dali, escutei quanto tu gritastes (paradoxalmente) baixinho dizendo que nada daquilo desfazia a verdade do que existiu. Escutei o borbulhar da tua mente dizendo que não só existiu, mas ainda existia. Ouvi a tua consciência dizendo que era tarde demais para tentar pegar em minhas mãos, que não tinha mais sentido aqueles abraços, e que naqueles beijos estava apenas o passado. E eu percebi que nada poderia ser mais gritante e doloroso do que o silêncio. Parecia que tudo havia sido ensaiado exaustivamente, orquestrado por uma sinfonia das melhores. E, mesmo com tantos ensaios, nada fazia mais sentido. O meu orgulho não me deu a satisfação  interna que eu achava que teria. As minhas certezas de vitória, de alcançar tudo aquilo, de estar fazendo o que convinha para os dois lados, para a situação, nunca chegaram a ser verdades. Continuo a escutar tuas músicas, teus gritos, teus risos, tuas dores, mas o mundo vem deixando cada vez mais abafado. 

agosto; 2012.

maio; 2011


Você acha que nada na sua vida tem mais sentido e começa a pensar que nunca ninguém vai enxergar o valor que você tem. Você começa a se perguntar se realmente tem valor, se realmente há algo de bom em você. Começa a se questionar se o problema esta nos outros por não verem que você é diferente, que você é especial, ou se o problema esta em você por auto atribuir qualidades que talvez sejam apenas frutos da sua imaginação. Talvez a crença no amor, na felicidade verdadeira, no “feliz para sempre”, nas mensagens de madrugadas ou no travesseiro dividido também seja produto dessa mente ilusória. Você é forçado a deixar de acreditar nisso e reprimir qualquer fé na “magia”. Você é obrigado a ser pé no chão, a cortar suas próprias asas. É obrigado a encarar a fria realidade da qual tanto quis fugir e evitar. Por mais que a esperança martele por alguns segundos no seu peito o mundo te acorda com um tapa na cara. Faz você voltar a sua frieza, ao seu coração de pedra. Talvez eu não tenha um coração de pedra, apenas criei um escudo de aço para cercar e proteger algo nobre, caloroso e bonito. É fácil ouvir das pessoas para não ser assim ou que “vai passar”, e talvez vá, um dia, quem sabe no futuro? Mas o meu agora não me permite acreditar em nada disso. Então é preciso ser forte, porque ninguém mais agüenta lhe ver assim, lhe ouvir falar sobre as mesmas coisas de sempre, e nem você se sente mais a vontade em compartilhar sua vida com ninguém. É isso, cansa. Você tem que ser forte mais uma vez e colocar uma mascara de “está tudo bem” enquanto na verdade nada está. Esconde-se nessa máscara em uma tentativa de proteção, por mais que sua vontade seja arrancá-la. E todos acreditam no seu pseudo-sorriso formado por uma breve inclinação dos seus lábios. Acreditam que passou.

maio; 2011.

2012




O ano do (sobre)viver. De ligar o botão automático e apenas existir. De perder qualquer competição de quem-sente-mais para qualquer mero robô. De guardar todas as explosões efusivas debaixo de 234 camadas dentro do peito. De esquecer satisfações pessoais e apenas acatar o que convém. E mesmo assim, não ser suficiente. Ao passo que foi o ano da transcendência do sentir. Um sentir tão bonito e verdadeiro que foi guardado. Guardado mais não menos sentido. E cuidado, regado, com as tão sonhadas mãos jardineiras. Foi também o ano do ser. Um ser ocultado por uma lataria encontrada na primeira esquina. O imediatismo foi necessário. Era preciso se ausentar, mas estar ali. Dessa lataria surgiram sorrisos, não os melhores nem os mais verdadeiros, mas os adequados. Casualidades...

Foi o ano do descobrir(-se). E de querer ser mais isso do que foi encontrado. E de saber que a estrada ainda é longa, que pode se encontrar de tudo nas próximas curvas...mas de querer isso. De escancarar-se para o futuro, para o destino. E não deixar que este nem aquele seja definido, que não estejam fadados a um roteiro pré-meditado, mas que eu pegue aquelas canetas coloridas escondidas no fundo da gaveta e faça deles uma coisa mais bonita. O poder das cores...

Hoje me colori de azul. A cor que me puxa para a serenidade. Amanhã, posso ser vermelho, amarelo, verde... não sei. O estojo de tintas está aqui, e sem medo de ser usado.

2013: vem cheio de cores, misturas, cheiros, sons, gostos, pessoas. Cheio de vida, de sentimento, de amor, carinho, cuidado. Vem cheio de música, samba, bossa, até um rock cai bem. Vem com boas vidas, sensações, gritos, choros. Vem cheio de verdade. 

A História do faz de conta e do faz acontecer - pt I


Aquelas primeiras semanas de janeiro denunciaram o que estaria prestes a acontecer. Não determinaram o rumo de uma prosa, de uma tarde em um café ou de um ano incomum. Anunciaram o que viria para uma vida, para um par de planetas paralelos que viram as suas órbitas se cruzarem. Não foi premeditado, nem ao menos imaginado nos seus sonhos mais longínquos. 

Ela, sem ao menos ter tempo de trancar as portas para o desconhecido, viu seu mundo adentrado por um sopro de vida. As cicatrizes ainda figuravam ali e as cinzas teimavam em tornar infértil o que queria florescer. Não ofereceu resistência ao passo que não poderia supor o que estava por vir. Aquele sopro apagou velas que insistiam em procurar fontes de combustão, mas fez acender chamas. Não reacendeu, mas deu a ela a chance de uma nova perspectiva.

Sentiu seu mundo mudar. Sentia que estava com os pulmões cheios de água e tossia para que aquilo fosse colocado para fora. Afundar na banheira às 07:03 deixou de ser uma ideia tão boa como ela pensara minutos antes. Seu corpo foi tomado por uma sensação nova de vazio, mas, dessa vez, o vazio parecia bom. Era a oportunidade de deixar-se preencher novamente, era a chance de se permitir.

Ele, de tanto querer aquilo, transformava a sua ânsia em insegurança sem ao menos saber de que era de segurança que ela precisava. Ele não entendia o porque de querer tanto aquilo, só sabia que queria. Queria como o menino que esperneia pelo último boneco da estante, queria como se a sua vida dependesse daquilo. Talvez ele também precisasse que seus pulmões fossem tomados um pouco pelo ar e ela seria a sua única esperança para aquilo. Ele queria o imediatismo; ela, a calma. Mas ele não se deixou perceber isso. A ansiedade havia tirado todas as suas percepções. Não se deu conta das interjeições que estavam ocultas nas entrelinhas, não percebeu os pedidos de socorro garranchados na dobra do livro. 

Nesse jogo de ele e ela, havia também os outros. E os outros não entendiam nada aquilo. Não havia sentido para ambos os lados, desafiavam todas as ordens designadas pelo mundo. Tornavam-se agentes desencorajantes, sufocavam qualquer chance de grito, vendavam os olhos para a chance de um novo amor. Ela, ele tornaram-se eles e passaram a ignorar qualquer onda que tentava alcançá-los. Não sabiam do que estavam se defendendo, não sabiam o que estavam defendendo, não sabiam também o que queriam, apenas tinham a certeza de não querer que aquilo acabasse. 

Ela se viu em uma emboscada, mas, ao invés de dar um passo para trás, preferiu insistir nos passos em falso. Insistir em algo que nunca havia existido e que não tinha pretensões de existir parecia tão desvairado que ela preferiu esquecer qualquer adjetivo que pudesse tentar definir aquela situação. Nenhum verbete naquele dicionário empoeirado guardado na estante inutilizada poderia nem ao menos beirar o que ela sentia. 

Ele passou a se dar conta de como a sua vida estava mudando e se dividia em ter medo daquilo, em querer voltar a ser o que era ou arriscar no desconhecido. Abandonou, então, o mundo das concretudes e se jogou no das incertezas mesmo sabendo que aquilo estava longe de ser tangível. Atirou-se desejando que o chão não fosse alcançado, que antes disso ela o tomasse nos braços. 

O medo fazia algumas visitas principalmente durante a noite. Sem perguntar se era bem vindo, fez-se presente. Para ela, a falta de segurança transformou-se em um novo pensamento. Começou a idealizar se não estaria sendo um alguém para tapar buracos e suprir a ausência de um amor de outrora. Em sua mente se ensaiava um desespero que repercutia em todo o seu corpo como uma dor fina que desatinava sem cerimônias. 

Torciam para que os milésimos passassem devagar, mas o tempo não demonstrava estar ao lado deles. Logo o mundo real se fez presente e o obstáculo passou de poucos centímetros a uma cortina de ferro alimentava pela timidez. Nem ele nem ela se davam conta do que estava acontecendo. Dividiam historias de pretéritos amores e encontravam ombros a se encostar. Em suas faces estava estampada uma felicidade aparentemente sem motivos e passavam a ansiar a presença do outro cada vez mais.

(to be continued...)

(Des)encantar de Ismália


Quando o reboliço toma conta do peito e a menina perde toda a força para procurar o ar, ela dar-se conta de que seus segundos foram gastos ansiando respostas para perguntas que não eram dela. Seus sonhos, ruindo como um castelo de areia ao toque do mar, perdem o sentido que antes lhe parecia tão óbvio. Dentro de si, um emaranhado de sentimentos impossibilitava qualquer reação. A mente, agora desvairada, ensaiava pensamentos que faziam com que a menina desconfiasse de todos a sua volta. Viu brotar em seu ser um desejo de atirar-se ao mar no topo da torre ao procurar a lua, mas não se julgava tão forte tal como fora Ismália. 

Queria, sim, as asas, mas estava tomada por uma multidão de sãos que podavam qualquer esperança que tentasse surgir de suas costas. Estavam estrategicamente posicionados, foram anatomicamente desenvolvidos para isso. A menina, que não era Ismália, mas enlouquecera, estava tão subjugada ao mostro do qual fugira que não tinha mais pretensões que não fosse se render. Quando fitou o mar como quem nada queria e se viu seduzida pela tão tentadora proposta, percebeu que ainda havia um único motivo para não se entregar a correnteza.

Ela não havia até então percebido, mas estava sendo observada minunciosamente por uma face não tão desconhecida que esperou o ensejo perfeito para segurar a sua mão. 

Quando as borboletas decidem alcançar voo

Descobri que quando se sente esse turbilhão de sensações diferentes e únicas ao mesmo tempo o corpo tende a expulsá-las em formas de palavras. Às vezes, junções silábicas não parecem suficientes para expressar tamanho reboliço. E entra em cena o pranto, o grito, o desespero. É engraçado ter mais medo das palavras do que do próprio sentimento. As palavras parecem um atestado de insanidade por possuir tal grito no peito. Sentimentos ficam nas entrelinhas, mas quando expostos e assumidos em palavras não tem mais volta. Disso que eu tenho medo. Tenho medo de não poder voltar. 

Porque eu sou só prosa...

... e ele é só poesia.

E nesse enredo, meus parágrafos fazem rimas com os seus versos, e as entrelinhas revelam que tudo não passa de um conto de amor. Encaixe. Quando eu mergulho em suas linhas, toda essa métrica bilacana se transforma em um arranjo sem estrutura, mas que é sustentado pela sonoridade dada aqueles versos brancos. Quando ele adentra nas minhas teses existenciais, o raciocínio perde a noção tempo-espaço e eu sou só amor. Como pés que encontraram a maciez das areias douradas da praia, meu peito se encontra na tenacidade dos teus (a)braços. Meros acasos fazem tudo ter sentido e ser sentido. 

Hoje te pintei nos meus sonhos. Estavas com os traços amarelados dos primeiros raios solares que adentram a janela despudoradamente. Teu amarelo coloriu as primeiras horas do meu dia, e fez com que ele começasse bem. Não precisei fechar as cortinas, aquela cor não incomodava mais. Escancarei-me para a rua e pensei em ti enquanto sentia o sol quente, enquanto te sentia. Teu sorriso era o mesmo e teus olhos confirmavam a inclinação da boca. Gosto de quem sorri com os olhos. E os teus me mostram verdades. Verdades que para muitos passam despercebidas em meio ao dia a dia. Não para mim.

Tu és do tipo que se esconde em mil camadas de lata para tornar feio o que é bonito. Como se houvesse algo ruim na beleza calorosa do teu coração. Tu és do tipo que desistiu do viver bonito, porque o feio pareceu ser mais fácil. Compreensível. Mas teus olhos não mentem o que há de ai dentro. Parece que anos são dissolvidos em pequenos instantes de segundos e não faz mais diferença se foram algumas horas ou alguns anos. Teu peito é o mesmo.

Na criança que reside em ti há tanta beleza, meu caro. E há tanta vontade de dançar, brincar, fazer o bem. Solta ela! Deixa ela viver... Me dá a tua mão e deixa que o ritmo a vida dita. Te acompanho em bossa, rock e poesia.

Prosaica em linhas tortas

Na procura constante de sentir. Na necessidade irremediável de se transpor para fora atestada por palavras. Palavras tão minhas que sinto um certo ciúmes de expô-las, mas aqui estão elas... mais uma vez pedindo para serem escritas, gritando para serem colocadas para fora e girar pelo mundo.